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Beatriz Escorcio Chacon é carioca de Piedade e hoje mora em Niterói. Jornalista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), é autora dos livros Mesa posta (1991), Surpresa de Quintal (1998) e Veios do corpo (2000), e também participou de coletâneas.
Escreve desde menina e começou a mostrar seu trabalho poético em 1987, por meio de cartazes com versos. Com essa poesia “pra pintar paredes”, iniciou intensa participação em movimentos culturais, também declamando poemas em escolas, bibliotecas, bares, teatros e praças. Aparentemente aposentada e dona de casa, só a tratar de plantas, netos e poemas na cozinha, faz apresentações com seus
POESIA SEMPRE. Árabe Contemporânea. Número 24. Ano 13. Editor Marco Lucchesi. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2006. 201 p. No. 10 368
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
Paisagem seca
Embora
alvorada de cânticos
rosamêndoas
gaivotas vermelhas
bem-te-vis não anunciam
águas
águas-bentas-azuis-turquesas.
Senhora Padroeira d´
Iguaba
e seus mantos de gesso
castanhos-mágoas.
Finda semana santa
silêncio de quaresmeiras
e a imensidão inda é bela
dessa beleza de além-olhar
procissão de senhorinhas
aves-marias
de despedidas.
Conceição de Oxum
no espelho sem azul
manjado de faces partidas.
Esse domingo
branco de páscoas
é Iguaba.
I-
guaba sozinha.
Rocheada d´
água suja
pedra e lodo
sal divino.
Nossa Senhora Sem Menino,
inda bendiz
tanta brisa.
Senhorinha da Conceição
inda recolhe d´
Iguaba
seus sonhos d´
água.
Castanhos-negros
ressequidos
sonhos d´
água
castanhos-tristes.
Rio de março
Manheceu outono meio verão
dia de guarda-chuva
de músculo?
Por aqui o calor é para sempre
esse asfalto é calafrio
o jornal estampa favelas de ratos molhados
mensalões e mensalistas
o povo pinta punhais nas camisetas
pega pega pega arrasta!
Um ladrão dominado no meio-fio.
Sobretudo ele é negro
é franzino
usa sandálias de dedo
umas papoulas na bermuda
cicatrizes salpicadas
lábios pulsos joelhos.
Fim de março de chuva de faca
essa porra de estação que não
se morre
e nas imediações da Praça Tiradentes
um ladrão ali cinzento
sobretudo agradecido
enquanto espera a
Pê-Eme.
*
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Página publicada em abril de 2025.
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